quarta-feira, 5 de junho de 2013

E, por favor, não coloquem a culpa no Neymar!

Hoje aprendi uma nova expressão idiomática: "colocando terror". Para vocês, provavelmente esta expressão já seja antiga, porém para quem acabou de aterrissar, talvez vindo de um outro planeta, é nova e para mim soa absolutamente: aterrorizante.

Perguntei ao meu interlocutor, um adolescente,  o que significava "colocar terror" e ele me disse que era simplesmente amedrontar as pessoas, aterrorizá-las com atitudes agressivas que causasse danos físicos ou morais. Citando o rapaz ipsis literis temos: "É botar medo mano! Ver o olho brilhar e o cara lá paralizado, se molhando inteiro..."(SIC).

Sabemos que o medo paraliza, sabemos que o medo faz com que as pessoas abram mão de sua liberdade para proteger a própria vida e a vida de outrem. E é claro que quem sabe disso, utiliza todas as artimanhas para que as pessoas se amedrontem e façam o que eles querem e dêem o que eles ordenam.

Sinto que no Brasil o medo é comum, crescemos sob o medo. Desde que fomos descobertos enquanto novo território para exploração, o colonizador implantou o medo através da escravidão, através da  falida inquisição pelo o temor a Deus, através do autoritarismo do poder dado aos coronéis, aos ditadores e agora aos nossos parlamentares. As pessoas têm medo daqueles que deveriam ser os protetores, os líderes. Os predarores estão em cada esquina e camuflados, usam moto e capacete, mas também caminham ao nosso lado, decidindo novas leis, ditando como devemos viver, o que vestir, comer e como divertir.  E assim, hoje, o terror não é posto apenas ameaçando nossas idéias, mas proibindo nosso direito de ir e vir. Vejam só: em apenas uma tarde em São Paulo, numa mesma região, foram registrados três assassinatos e as vítimas eram trabalhadores que acabavam de receber seus salários. Colocaram terror na saída dos bancos. E agora?

Explodem os caixas dentro das agências bancárias, e agora? Devemos reinstituir o escambo?
Rendem motoristas em plena luz do dia em ruas movimentadas e lhe roubam o carro, e ainda fazem refém crianças inocentes indo para a escola, e agora? Devemos contratar professores particulares e seguranças ao redor da casa?
Atropelam pessoas, arrancam-lhe braços, quando não a própria vida, e agora? Devemos não andar mas nas ruas?
Assaltam pessoas em frente a hospitais, aeroportos, hotéis,  e agora? Não poderemos mais ficar doentes, viajar ou hospedar em hotéis?
Fazem arrastão em pizzarias e restaurantes, e agora? Devemos comer em casa ou contratar seis seguranças como fazem os prefeitos das grandes cidades?

Por que o nosso país perdeu o controle da violência urbana nos grandes centros? Por que o Brasil perdeu o controle do crack? Por que o Brasil perdeu o controle das políticas e ações sociais?
Falta ação dos governantes, uns diriam...
Noutros caminhos de pensamento, diria que não aprendemos a usar nossa voz, não aprendemos a lutar pelos nossos direitos (à segurança, à saúde, à educação, etc.) Aprendemos sim a sermos "bons meninos"e "boas meninas" se quisermos ganhar presente de Natal (que hoje se traduz em Bolsa Familia, Bolsa Presidiário, Bolsa Crack e por ai vai). Existem muitos movimentos por aí quebrados, espassados, sem muita massa representativa e com propaganda negativa pela mídia brasileira que manipula as manchetes julgando mocinhos por bandidos desordeiros. Isto já aconteceu em outras épocas, porém a resistência era longa, pois não tínhamos medo. Nosso sonho de uma sociedade justa era maior que o desejo de ter poder.  As ameaças, as torturas e prisões não paralizavam porque tínhamos princípio, ética e não nos vendíamos por roupa de grife, bolsa de estudo em instituições particulares de ensino e vagas em intituições publicas. Nós éramos jovens de princípios e valores para o crescimento e fortalecimento do homem publico, no conceito de Richard Senneth. Nós contávamos com veículos de comunicação castrados com censura, mas não tão fútil como a mídia de hoje. E resistíamos e denunciávamos... Colocavamos terror. Mataram e torturaram muitos de nós. Outros se venderam ao poder. Mas não tínhamos medo. Alguns de nós aprenderam portanto, a usar o medo.

Jornalistas estrangeiros que abrem seus notebooks para delatar à comunidade internacional a farsa do "crescimento Brasil" têm seus vistos de permanência cassados, outros são demitidos de seus postos somente porque faziam seu trabalho. Vivemos a censura da imprensa, por colocarem terror na vida das pessoas que a fazem existir. Um terror às avessas com contratos milionários que ameaçam a "liberdade de imprensa" ao ser esta fadada à falência, sem o subsídio dos 1% que detém os índices de "Crescimento Brasil" em seus cofres pelo mundo afora.

Como diria Marilena Chauí: qualquer coisa que eu disser sobre a midia brasileira, seria obsceno! (http://www.youtube.com/watch?v=7Prt_q-nZFc)

Hoje acordei com dezenas de pessoas indignadas, nas redes sociais, com a cobertura da transferência do Neymar para o Barcelona. Devíamos nos importar e nos indignar com as músicas que nossos ouvidos são obrigados a ouvir que só pregam a aberração sexual, o desrespeito a mulher, a indução ao consumo de álcool. Devemos nos indignar com as notícias dos senhores do mensalão, que nos roubaram e permanecem em liberdade. Vamos nos indignar com o pouco que se mostra, pois estes poucos segundos de denúncia à abusiva corrupção que sofremos é a ponta do iceberg que temos a responsabilidade de denunciar, brigar e mostrar que ainda temos dignidade! Deveríamos aprender a colocar terror desmascarando nossos predadores "... botar medo mano! Ver o olho brilhar e o cara lá paralizado, se molhando inteiro..."(SIC). e renunciando a seus cargos, deixando a liderança para verdadeiros líderes.

E deixem o Neymar em paz!

Hoje foi roupa suja e sabão....

Nenhum comentário:

Postar um comentário