segunda-feira, 27 de maio de 2013

No que nos tornamos? 

É este o país do futuro que tanto nos prometeram?



Sou nascida em 1968, ano das grandes turbulências políticas, brados de mudança compostos de uma esperança gigante no futuro. Nasci em terras brasileiras, enquanto  a ditadura militar ja se fazia presente há dois anos e os estudantes franceses protestavam contra General de Gaulle. Lembro-me de meu pai (capitão do Exército reformado hoje) dizer: "você nasceu em um grande ano para o mundo, um grande ano para o Brasil. Somos o país do futuro!"

Como fiz parte da geração "coca-cola", como são chamadas as crianças da ditatdura, e filha de militar, li escondido as obras proibidas de consciência social, ouvi com fones a MPB que vinha dos exilados e cantarolava: "Apesar de você amanhã há de ser outro dia... " Aprendi a me desvencilhar daquilo que não acreditava com muita diplomacia e busquei cada vez mais conhecimento para um dia quem sabe mudar pelo menos aquele mundo em que eu vivia.

Vi o país sair da ditadura, dei aulas para os filhos da minha geração e parti para conhecer outras paisagens. Há um ano atrás voltei, e neste tempo observei, tomei notas, analisei...  resultado: minhas decepções só se agravam. Digo decepções porque criei expectativas, assim como todos os brasileiros. Meus heróis morreram de overdose de "poder"! Meus ídolos caíram e as grandes idéias foram chamuscadas pela arrogância e autoritarismo, ou seja: meus heróis são vítimas da droga que tanto lutaram contra: a vantagem de se manter uma desigualdade social para ter a quem manipular.
O problema maior que presencio é o do autoritarismo ignorante desta nova geração: os jovens gritam, não escutam;  agridem, não ouvem; repetem idéias, não pensam. Os mais velhos por sua vez batem com o cajado do poder financeiro - o uso da força do mais adaptado ao sistema e aí ninguém se comunica, ninguém aprende, ninguém ensina e mais: não podemos reclamar, porque não existe quem nos ouça. No Brasil a máxima se tornou: há muitos direitos sem deveres, não somos iguais todos os seres, o contrário da canção revolucionária Internacional  escrita por Eugène Pottier em Junho 1871.  O brasileiro honesto está sem direitos,  não sabe respeitar porque perdeu o respeito próprio. Ninguém reclama, porque reclamar é dar barraco; reclamar seus direitos é sinônimo de desmanchar prazer.

Hoje minha discussão como cidadã do mundo vivendo no Brasil é bem pontual e as questões são:

Que país é este? Do povo hospitaleiro, como querem que os turistas nos vejam? De onde saíram os 97% de satisfação apresentados ontem pelo Fantástico?


NÃO - Não somos mais hospitaleiros. Somos exploradores da boa vontade alheia, da boa fé seja do turista, seja daquela que vem do próprio conterrâneo.
Somos explorados pelos taxistas desonestos que rodam dezenas de quilômetros a mais.
Somos explorados na padaria, onde nos vendem pão com tanto bromato que quando mordemos sentimos os farelos se dissolverem e continuamos com fome, com a impressão de que estamos comendo vento.
Somos explorados quando queremos nos divertir e eles nos vendem area VIP, prometendo segurança e quando chegamos lá  ficamos mais estressados e com medo porque somos obrigados a sentar do lado de gente mal educada, bêbada e inconveniente.
Somos explorados quando nos vendem o melhor lugar no show do nosso cantor favorito, em casas de alto padrão e não podemos nem mesmo enxergar o palco.
Somos explorados quando usamos serviços de primeiro mundo para reservar hotéis e quando chegamos cansados, as fotos mostradas são bem diferentes da realidade e temos que cancelar, botar a mochila nas costas e procurar um lugar limpo para ficar.
Somos explorados em cada esquina, à cada metro quadrado.
Somos explorados por anos pagando planos de saúde e quando precisamos nos aplicam remédios genéricos sem nosso conhecimento, nosso consentimento, sem escolhas...
Minha lista pode se estender muito ainda... e muitos ainda vão dizer: "Nossa como você é exigente!" E vão tentar fazer você acreditar que aquilo a que você tem direito é muito para você, que você não nasceu para receber nada de qualidade, nada bom.  E isto se traduz na falta respeito ao outro, por aqueles que não enxergam nada além da propaganda enganosa de que o Brasil é o melhor país do mundo e que levar vantagem é ser inteligente! Você é quem é bobo, não prestou atenção...

Boa sorte ao "fazer bonito" nos grandes eventos que virão, no país do "povo hospitaleiro". Em 20 dias não acredito que recuperaremos o que perdemos lá atrás na história, na formação de cidadãos honestos: o Respeito. Mesmo que eu tenha nascido no ano da esperança...
Até a próxima roupa suja...



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