sábado, 22 de junho de 2013

O discurso verdadeiro de Dilma....

Na última quarta-feira, dia dos namorados fiquei sabendo que a Presidente de um grande país, estava indo embora da cidade onde moro (de onde  a revolução pela igualdade e respeito ao cidadão desta terra gigante começou e inspirou milhares de jovens à irem às ruas novamente lutar pelos seus direitos). Ela precisava dividir a responsabilidade de responder ao povo, que já estava nas ruas há dias. Porém,  ela não poderia deixar de consultar seu antigo companheiro (de idéias e sonhos). Apareceram para ela o senhor supra citado e um daqueles senhores conselheiros, que julgam o povo um reles detalhe de uma fonte inesgotável de proventos. A quem não se dá respostas, mas sim discurso vazio com explicações vagas e falsas.
A senhora em questão, saiu da grande cidade muito desiludida, me disseram até que chorando bastante dentro de seu jatinho. O destino do vôo foi a volta para casa para ser confortada pelos espíritos dos antigos "inconfidentes", que foram traídos e tiveram seus sonhos destroçados por aqueles em quem confiaram. Pois, este era o sentimento com qual saiu daquela reunião em que foi "aconselhada" a jogar na lata de lixo as palavras que escreveu ao seu povo. Para demonstrar fidelidade a quem lhe ajudou ela deveria trocar seu pronunciamento por aquele que seria mais eficaz, afinal ela era mulher e o discurso que a plebe deveria assistir e ouvir deveria ser escrito por dois homens inteligentes o suficiente para enganar milhares de pessoas. Ela se enganou prestando fidelidade... e ontem ela chorou de novo, pela vergonha de ter subestimado a inteligência de quem lidera. Porém, nada está perdido para aquela senhora, pois seu verdadeiro discurso foi encontrado pelo faxineiro e aqui está na ïntegra, se ela quiser poderá fazê-lo a qualquer momento, basta escolher entre o povo e o impeachment.


"Pronunciamento da Dilma:

Minhas amigas e meus amigos, todos nós estamos acompanhando as manifestações, elas mostram a força da democracia.  E eu estou envergonhada de não ter correspondido às expectativas de todos vocês que votaram em mim. Estou desiludida ao lutar todos os dias para vencer a resistência daqueles que não nos querem ver crescer e despontar no cenário mundial como uma Nação próspera, educada e saudável.

Brasileiros, as manifestações trouxeram bonitas lições. As tarifas baixaram. Temos que aproveitar o vigor dessa manifestação para continuar mudando. A voz das ruas precisa ser ouvida e respeitada, por isso estou aqui para responder a vocês cada um dos itens que vejo nas faixas e passar a partir de hoje a consultar a população quando as decisões incidirem em seu cotidiano, como fazem as grandes e sérias democracias do mundo.
 

Irei conversar com chefes dos governos para unir esforços. Do país todo. Para um grande pacto com o povo em torno da melhoria do serviço publico:

1. seriedade na criação do plano nacional da mobilidade urbana;
2. transparência na destinação do dinheiro dos para educação;

3. equipar o SUS, acabar com os genéricos (que matam aos poucos a população desinformada que não pode pagar por medicações eficazes, sustentando a máfia dos médicos e donos de laboratório que exploram hospitais e clínicas); 
4. auditar hospitais, clínicas e planos de saúde para que ofereçam serviços decentes;
5. fortalecer a educação dos médicos deste país e criar oportunidades para eles possam servir com integridade uma medicina humanizada de alta tecnologia e avanços para todos os brasileiros em todas as partes do território nacional.
6. punir os políticos corruptos com vigor;
7. destituir das comissões políticos que foram investigados e que carregam provas de corrupção contra esta nação;
8. fortalecer a educação pública deste país com professores bem remunerados e planos de carreira que favoreçam sua constante atualização.
 

Se Não respondi a tudo, anuncio que vou receber os líderes da manifestações pacíficas para que possamos EXECUTAR os projetos sociais que FAVOREÇAM nossa sociedade, que não foram neste discurso contemplado.


 É a cidadania e não o poder econômico que deve ser ouvido em primeiro lugar. Quero  e vou fazer uma reforma política com o povo. Temos que adotar medidas para que o cidadão tenha mecanismo de controle mais abrangentes sobre seus representantes, por isso a lei de acesso a informação, sancionada no meu governo, será ampliada os governos estaduais e municipais. A melhor forma de combater a corrpução é ter transparência.

Por isso A COPA agora é responsabilidade da FIFA. Que os empresários que a trouxeram paguem pelo que já foi gasto.


O Futebol e o Esporte não serão usados como pão e circo nesta nação!

Boa Noite e me perdoem por não ter me pronunciado a mais tempo e me desculpem se por estes anos não demonstrei respeito por vocês.
Assinado,
a Presidenta sem partido.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

E, por favor, não coloquem a culpa no Neymar!

Hoje aprendi uma nova expressão idiomática: "colocando terror". Para vocês, provavelmente esta expressão já seja antiga, porém para quem acabou de aterrissar, talvez vindo de um outro planeta, é nova e para mim soa absolutamente: aterrorizante.

Perguntei ao meu interlocutor, um adolescente,  o que significava "colocar terror" e ele me disse que era simplesmente amedrontar as pessoas, aterrorizá-las com atitudes agressivas que causasse danos físicos ou morais. Citando o rapaz ipsis literis temos: "É botar medo mano! Ver o olho brilhar e o cara lá paralizado, se molhando inteiro..."(SIC).

Sabemos que o medo paraliza, sabemos que o medo faz com que as pessoas abram mão de sua liberdade para proteger a própria vida e a vida de outrem. E é claro que quem sabe disso, utiliza todas as artimanhas para que as pessoas se amedrontem e façam o que eles querem e dêem o que eles ordenam.

Sinto que no Brasil o medo é comum, crescemos sob o medo. Desde que fomos descobertos enquanto novo território para exploração, o colonizador implantou o medo através da escravidão, através da  falida inquisição pelo o temor a Deus, através do autoritarismo do poder dado aos coronéis, aos ditadores e agora aos nossos parlamentares. As pessoas têm medo daqueles que deveriam ser os protetores, os líderes. Os predarores estão em cada esquina e camuflados, usam moto e capacete, mas também caminham ao nosso lado, decidindo novas leis, ditando como devemos viver, o que vestir, comer e como divertir.  E assim, hoje, o terror não é posto apenas ameaçando nossas idéias, mas proibindo nosso direito de ir e vir. Vejam só: em apenas uma tarde em São Paulo, numa mesma região, foram registrados três assassinatos e as vítimas eram trabalhadores que acabavam de receber seus salários. Colocaram terror na saída dos bancos. E agora?

Explodem os caixas dentro das agências bancárias, e agora? Devemos reinstituir o escambo?
Rendem motoristas em plena luz do dia em ruas movimentadas e lhe roubam o carro, e ainda fazem refém crianças inocentes indo para a escola, e agora? Devemos contratar professores particulares e seguranças ao redor da casa?
Atropelam pessoas, arrancam-lhe braços, quando não a própria vida, e agora? Devemos não andar mas nas ruas?
Assaltam pessoas em frente a hospitais, aeroportos, hotéis,  e agora? Não poderemos mais ficar doentes, viajar ou hospedar em hotéis?
Fazem arrastão em pizzarias e restaurantes, e agora? Devemos comer em casa ou contratar seis seguranças como fazem os prefeitos das grandes cidades?

Por que o nosso país perdeu o controle da violência urbana nos grandes centros? Por que o Brasil perdeu o controle do crack? Por que o Brasil perdeu o controle das políticas e ações sociais?
Falta ação dos governantes, uns diriam...
Noutros caminhos de pensamento, diria que não aprendemos a usar nossa voz, não aprendemos a lutar pelos nossos direitos (à segurança, à saúde, à educação, etc.) Aprendemos sim a sermos "bons meninos"e "boas meninas" se quisermos ganhar presente de Natal (que hoje se traduz em Bolsa Familia, Bolsa Presidiário, Bolsa Crack e por ai vai). Existem muitos movimentos por aí quebrados, espassados, sem muita massa representativa e com propaganda negativa pela mídia brasileira que manipula as manchetes julgando mocinhos por bandidos desordeiros. Isto já aconteceu em outras épocas, porém a resistência era longa, pois não tínhamos medo. Nosso sonho de uma sociedade justa era maior que o desejo de ter poder.  As ameaças, as torturas e prisões não paralizavam porque tínhamos princípio, ética e não nos vendíamos por roupa de grife, bolsa de estudo em instituições particulares de ensino e vagas em intituições publicas. Nós éramos jovens de princípios e valores para o crescimento e fortalecimento do homem publico, no conceito de Richard Senneth. Nós contávamos com veículos de comunicação castrados com censura, mas não tão fútil como a mídia de hoje. E resistíamos e denunciávamos... Colocavamos terror. Mataram e torturaram muitos de nós. Outros se venderam ao poder. Mas não tínhamos medo. Alguns de nós aprenderam portanto, a usar o medo.

Jornalistas estrangeiros que abrem seus notebooks para delatar à comunidade internacional a farsa do "crescimento Brasil" têm seus vistos de permanência cassados, outros são demitidos de seus postos somente porque faziam seu trabalho. Vivemos a censura da imprensa, por colocarem terror na vida das pessoas que a fazem existir. Um terror às avessas com contratos milionários que ameaçam a "liberdade de imprensa" ao ser esta fadada à falência, sem o subsídio dos 1% que detém os índices de "Crescimento Brasil" em seus cofres pelo mundo afora.

Como diria Marilena Chauí: qualquer coisa que eu disser sobre a midia brasileira, seria obsceno! (http://www.youtube.com/watch?v=7Prt_q-nZFc)

Hoje acordei com dezenas de pessoas indignadas, nas redes sociais, com a cobertura da transferência do Neymar para o Barcelona. Devíamos nos importar e nos indignar com as músicas que nossos ouvidos são obrigados a ouvir que só pregam a aberração sexual, o desrespeito a mulher, a indução ao consumo de álcool. Devemos nos indignar com as notícias dos senhores do mensalão, que nos roubaram e permanecem em liberdade. Vamos nos indignar com o pouco que se mostra, pois estes poucos segundos de denúncia à abusiva corrupção que sofremos é a ponta do iceberg que temos a responsabilidade de denunciar, brigar e mostrar que ainda temos dignidade! Deveríamos aprender a colocar terror desmascarando nossos predadores "... botar medo mano! Ver o olho brilhar e o cara lá paralizado, se molhando inteiro..."(SIC). e renunciando a seus cargos, deixando a liderança para verdadeiros líderes.

E deixem o Neymar em paz!

Hoje foi roupa suja e sabão....

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Já começou....

Ontem recebi uma mensagem de alguém que não conheço, mas carinhosamente me disse que  a partir do momento em que eu tirasse a "roupa suja" do cesto, deveria indicar o melhor sabão. Em resposta gostaria de dizer que não há um melhor sabão, mas específicos, produzidos para cada tipo de mancha.

Em relação ao meu primeiro post no qual aponto minhas decepções com um país que jura estar indo para frente, o melhor sabão é EDUCAÇÃO, de berço e de banco de escola. Referindo ao segundo post, sugiro uma educação de qualidade, destas que abrem horizontes e dão perspectivas para que se instale a consciência cidadã: do melhor para todos e não para alguns. Salas de aula em que o aluno se sinta a vontade para participar e seja respeitado em suas diferenças de aprendizagem. Professores que amam o que fazem, sintam-se orgulhosos de serem facilitadores do saber e sejam respeitados como profissionais, com salários dignos e oportunidades de desenvolvimento na carreira.

Conheço, hoje no país, algumas iniciativas de sucesso que por incrível que pareça envolvem escolas de pré ao quinto ano localizadas em subúrbios e favelas. Iniciativas de pessoas que acreditaram inovar os bancos escolares, trocando as carteiras individuais por mesas com vários assentos, modificando a interação professor aluno e aumentando a participação nas aulas mesclando na escola o interesse do aluno e o conhecimento a ser transmitido. Classes interativas, jogos eletrônicos ao invés de testes de multipla escolha e pontos ganhos através de aprendizagem efetiva e não decoreba.

Exemplo 1: sem computadores:
Exemplo 2: Escola Municipal Antônio José Ramos
http://lumiar.org.br/index.php/onde-estamos/escola-lumiar-publica/


Exemplo 3: Colégio Estadual José Leite Lopes
http://tvbrasil.ebc.com.br/reporterbrasil-noite/episodio/escola-do-rio-e-considerada-uma-das-mais-inovadoras-do-mundo 

Exemplo 4: http://portal.aprendiz.uol.com.br/2012/11/16/rio-de-janeiro-tera-escola-integral-focada-em-novas-tecnologias/


Taí aí já começou... Só precisamos de tempo e proteção às iniciativas para que estas não morram depois dos grandes eventos que estão por vir.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Ouvir

Quem já não ouviu: escutar é diferente de ouvir?
Tenho a nítida impressão às vezes que as pessoas escutam por educação, mas não ouvem porque não possuem limiar de atenção suficiente. Eu não julgo se meus interlocutores estão interessados ou não, porque considero o interesse uma experiência pessoal e intransferível; porém, interpreto que as pessoas estão "congestionadas"assim como as linhas telefônicas quando dá linha cruzada. Fisicamente as pessoas estão ali, te olhando e você falando, mas elas não estão só te ouvindo, existem outras vozes vindas de fontes invisíveis a você interferindo na linha. No final da sua fala, a pessoa te olha e num gesto quase de clemência sussurra: "Desculpe, mas não entendi a sua colocação." Ou, "Pode repetir por favor?" ou "Como assim? Não entendi!" e por aí vai. Os piores interlocutores porém, são aqueles que fingem que escutaram e te oferecem pérolas de resolução, opiniões divergentes ou começam a gritar, falar alto sobre qualquer outro assunto para chamar a atenção dos demais sobre si mesmo. À estes, eu chamo de autoritários, e é sobre essa "roupa suja" do autoritarismo que gostaria de escrever hoje, com particular foco à educação das nossas crianças e jovens.

Em o Mito Fundador e Sociedade Autoritária, Marilena Chauí,  afirma que a sociedade brasileira é uma sociedade autoritária. Na minha interpretação deste estudo, somos assim porque somos frutos de  uma história que nos educou dentro deste comportamento. Nosso aprendizado foi tão efetivo que não somos autoritários apenas em específicos patamares, mas fazemos questão de mostrar que somos bons alunos aplicando este comportamento às nossas relações pessoais. Este autoritarismo estendido configura-se muitas vezes como abuso de poder onde existe a dominação de uma pessoa sobre outra através do poder financeiro, econômico ou pelo terror e coação. Diferindo-se portanto, do termo "autoridade" que entendemos como simples fonte de poder: a base de quaisquer organizações hierárquicas definindo as lideranças.

 O que consideramos abuso? O termo ou idéia de abuso aplica-se a qualquer ação humana onde exista uma pré-condição de desnível de poder, seja ele sobre objetos, seres, legislações, crenças ou valores. Sabemos pois, que fontes de poder perdem a autoridade quando adotam o autoritarismo e subordinam outrem não pelas idéias, mas pela força, seja a do grito, seja a da violência física. O desnível de poder quando estabelecido, substitui o respeito pelo medo. Porém, o que fazer quando os subordinados perdem o medo e reagem da mesma forma violenta? O caos está por sua vez instaurado e tudo parece fora de controle aos olhos das autoridades.

Quanto mais leio sobre a violência nas escolas e a desmedida crueldade de crimes praticados por jovens que deveriam estar estudando, mais questiono sobre a nossa educação autoritária onde medimos força o tempo todo. Será que ainda funciona dizer: quem manda aqui sou eu?

Há alguns anos atrás assisti a um filme chamado 1968 que se tratava de uma história de um grupo de jovens franceses que adotam a filosofia hippie. Durante a revolta estudantil de maio daquele ano, a mais rica deles compra uma fazenda antiga e ali todos juntos constroem a comunidade de seus sonhos. Eles criam seus filhos para serem livres pensadores, críticos, criativos, independentes. Os filhos crescem e alguns pais voltam para Paris, retomam seus estudos e profissões e constituem uma família dentro dos padrões da sociedade parisiense. Os filhos, então já adolescentes começam a exercer sua liberdade, falando o que pensam e tomando suas próprias decisões.  Para surpresa geral do público, os pais se irritam com tamanha "liberdade" e começam a ter problemas na criação de seus filhos, frutos de seus valores anteriores de amor, paz e liberdade. O conflito toma diferentes proporções nos diferentes grupos. A comunidade criada por estas pessoas continuou de pé devido a líder que lá permaneceu, teve filhos e netos. Todos eles, diferente dos seus amigos que voltaram para a cidade, tomaram diferentes rumos sem que a matriarca interferisse nas escolhas dos caminhos a serem seguidos.  O final do filme é uma reunião dos principais personagens em torno da matriarca. Ela, em seu papel central, ouve atentamente as experiências de seus amigos e comenta particularmente aquelas em que alguns se manifestavam descontentes com seus descendentes. Ao final da fala de um deles, ela calmamente segura sua mão e diz: "Lutamos por esta liberdade, nossos filhos e netos não se amedrontam mais diante de ameaças e manifestações de poder. Se você quer ser ouvido, respeitado, ouça até o fim para suas estratégias ajudem e não tolham a liberdade de escolha. Exerça sua autoridade com sabedoria. Lembre-se, nós lutamos por isso. Vencemos, mas vejo que vocês não sabem como ser diferente de seus pais. Ser como eles não funciona mais! Nós quebramos o padrão!Nossos filhos e netos demonstram que vencemos!"

Quando se quebra o padrão, há que se redefinir a estratégia.  A velha fórmula já não funciona mais.

Percebo através do que leio seja nos jornais, seja na internet que existem buracos enormes nesta contenção da violência nas escolas. Um dos buracos que atinge diretamente os professores é o fato de que receberam um preparo filosófico da educação para a liberdade, mas têm que ensinar àqueles que são os frutos de uma sociedade autoritária, em um sistema autoritário, sob ordens de pessoas autoritárias.  A relação professor-aluno perdeu o encanto desde que nem um nem outro são respeitados em sua essência humana para começar e acima de tudo não têm conhecimento de seu papel na sociedade. O professor não conhece o aluno e o aluno desconhece o que significa ser professor. Um fala, o outro finge ouvir. A decadência desta relação gera frustração e esta desencadeia a agressividade, o desinteresse, e no final tudo isso provoca nos dois personagens desta história, ações de violência e terror nunca vistas antes.

A partir do momento em que recebemos overdoses de abuso de poder por aqueles que deveriam ser respeitados pela autoridade conferida, a admiração e respeito sofrem um ataque viral de banalização dos papéis que cada um exerce na sociedade. Professores são vistos como os grande vilões e entraves ao progresso de nossas crianças,  assim como, sob o ponto de vista dos alunos se tornam os babacas que tentam ficar dando sermão ou derramam um monte de baboseiras sem uso.  Claro que tudo depende do valor que cada um dá à educação. Portanto, os primeiros valores vêm de berço, não do banco da escola. Portanto, o desrespeito ao professor tem sua origem muito antes destes dois personagens se encontrarem.

Se valorizamos a educação para a liberdade, devemos agir com responsabilidade, reconhecendo e exercendo o papel que escolhemos nesta sociedade. Se condenamos o autoritarismos, não podemos ser autoritários.  O respeito está para ser ensinado e esta geração está gritando por socorro. Não adianta mais perguntar quem manda aqui, se vivemos numa sociedade onde todos mandam. O segredo está em ouvir porque normalmente quem age autoritariamente não tem tempo para ouvir!
Descongestione a linha, ouça. Aja com um professor: colha informações e escolha a melhor estratégia de aproximação para adquirir o respeito e a admiração de seus alunos.















terça-feira, 28 de maio de 2013

Dá pra lavar a janela?

Certa vez ouvi uma história (infelizmente não sei quem é o autor)  que era mais ou menos assim:

Um casal, recém-casados, mudou-se para um bairro muito tranqüilo. Na primeira manhã que passavam na casa, enquanto tomavam café, a mulher reparou em uma vizinha que pendurava lençóis no varal e comentou com o marido: 
Que lençóis sujos ela está pendurando no varal! Está precisando de um sabão novo. Se eu tivesse intimidade perguntaria se ela quer que eu a ensine a lavar as roupas!
O marido observou calado.
Três dias depois, também durante o café da manhã, a vizinha pendurava lençóis no varal e novamente a mulher comentou com o marido:
Nossa vizinha continua pendurando os lençóis sujos! Se eu tivesse intimidade perguntaria se ela quer que eu a ensine a lavar as roupas!
E assim, a cada três dias, a mulher repetia seu discurso, enquanto a vizinha pendurava suas roupas no varal. Passado um mês a mulher se surpreendeu ao ver os lençóis muito brancos sendo estendidos, e empolgada foi dizer ao marido:
Veja, ela aprendeu a lavar as roupas, será que a outra vizinha a deu sabão? Porque eu não fiz nada.
O marido calmamente a respondeu:
Não, hoje eu levantei mais cedo e lavei a vidraça da janela!
E assim é. Tudo depende da janela, através da qual observamos os fatos. Antes de criticar, verifique se você fez alguma coisa para contribuir; verifique seus próprios defeitos e limitações. Devemos olhar, antes de tudo, para nossa própria casa, para dentro de nós mesmos.
Lave sua vidraça!
Abra sua janela! 



O que acontece porém, quando limpamos a janela e tudo o que vemos lá fora é tão desagradável que nos obriga a fechar a cortina? Quando descemos a persiana, puxamos o blind e fechamos a cortina, passamos a não ter direito à luz natural - ao sol para iluminar e aquecer os cômodos, não poderemos mais admirar a chuva ou acenar para os nossos vizinhos e muito menos poderemos sentir o vento que refresca a vida.

Depende da perspectiva, não é? Alguém que queira te confortar pela sua falta de liberdade de abrir suas cortinas e janelas responderia: olha, você pode ver pelo lado de que fechando as cortinas você se sentirá mais seguro, ninguém irá bisbilhotar o que você tem em casa, você não será obrigado a acenar para aquele vizinho chato e o melhor  de tudo é que ninguém saberá quando você está em casa, daí você poderá decidir se atende ou não quem bater na porta. Ta vendo? Não é tão mal assim viver enclausurado na sua negação de ver o mundo tal como ele é.  Mas eu penso: isso é perigoso!

O fato é que a decisão de blindar a visão daquilo que nos é desagradável aos olhos, cria uma prisão na ignorância e o falso conforto de uma segurança que te omite na multidão. O fato é que não somos invisíveis e nunca conseguiremos sê-lo, pois somos massa e ocupamos lugar no espaço: somos matéria e portanto, agentes modificadores do ambiente, simplesmente por existirmos. "Se pensamos, existimos!" Ditou Descartes. Por esta razão, devemos exercer a atividade de livres pensadores, interlocutores  e verbalizar o que vemos para que tudo não passe de uma ilusão de ótica. E, isso é contribuir de janela aberta para que a paisagem mude, para que nossa ação no mundo seja efetiva.

Todos os dias, passo pelo Viaduto da 14 bis em São Paulo e à cada dia conto um morador de rua a mais, o que sempre me entristece muito. Hoje, porém,  a cena me fez chorar de volta para casa: um grupo meninos, em que a media da faixa etária não deve passar de dez anos de idade. Eles se revezavam entre dividir seu cachimbo de crack e correr entre os carros pedindo dinheiro.  Os motoristas mantinham suas janelas fechadas e os políciais do outro lado da rua olhavam para dentro de seu trailler como se não quisessem ver aquilo que eles não podem resolver.  Eu já tinha visto esta cena antes, mas hoje acho que minhas lentes estavam mais limpas, capturando um filme sem expectadores.

Milhares de pensamentos passaram pela minha cabeça e fiquei muito atormentada ao entender que nenhuma ação social será eficiente se não vier daqueles que querem ver o problema de fato. O cartão chamado "Recomeçar" criado para atender os usuários do crack é só mais uma muleta que vai quebrar já já...
Enxergar o problema do menor infrator e do usuário de drogas não são assuntos diferentes, eles vêm juntos numa situação complexa social de descaso com a educação pública neste país, com a educação para a saúde e com a educação dos líderes políticos. Quanto mais ignorante o político responsável pelas ações sociais, mais elas serão ineficientes  e cada vez mais agravarão o problema.

Diminuir a idade do jovem infrator para cumprir pena legal somente contribuirá para que as quadrilhas aliciem crianças cada vez mais novas. Levar o dependente de crack para um lugar bucólico, sem tratamento psiquiatrico e terapêutico é contribuir para que retorno  ao "mundo-real-que-não-oferece-oportunidade-a-quem-não-é-qualificado-e-ex-drogado" seja mais traumático e solitário. Tirar estas pessoas das nossas vistas e enclausurá-las sem o mínimo apoio educacional, para enfrentar esta vida que não é fácil, é  como fechar a cortina. E daí minha indignação ao ver a propaganda comandada por celebridades arrecadando fundos para ajudar crianças na África, Haiti, e outros lugares miseráveis, enquanto a nossa roupa continua suja, naquele cesto jogado nos fundos da lavanderia. Outra coisa que me causa a mais profunda irritação é este Estado autoritário com cara democrática que não permite  e por isso não proporciona discussões para criar soluções efetivas e duradouras. As ações sociais implementadas neste autoritarismo estão mantendo a janela suja e estão manipulando o olhar da sociedade através de um prisma que julga e não ajuda.

Dá para limpar a janela?

Até a próxima roupa suja...




segunda-feira, 27 de maio de 2013

No que nos tornamos? 

É este o país do futuro que tanto nos prometeram?



Sou nascida em 1968, ano das grandes turbulências políticas, brados de mudança compostos de uma esperança gigante no futuro. Nasci em terras brasileiras, enquanto  a ditadura militar ja se fazia presente há dois anos e os estudantes franceses protestavam contra General de Gaulle. Lembro-me de meu pai (capitão do Exército reformado hoje) dizer: "você nasceu em um grande ano para o mundo, um grande ano para o Brasil. Somos o país do futuro!"

Como fiz parte da geração "coca-cola", como são chamadas as crianças da ditatdura, e filha de militar, li escondido as obras proibidas de consciência social, ouvi com fones a MPB que vinha dos exilados e cantarolava: "Apesar de você amanhã há de ser outro dia... " Aprendi a me desvencilhar daquilo que não acreditava com muita diplomacia e busquei cada vez mais conhecimento para um dia quem sabe mudar pelo menos aquele mundo em que eu vivia.

Vi o país sair da ditadura, dei aulas para os filhos da minha geração e parti para conhecer outras paisagens. Há um ano atrás voltei, e neste tempo observei, tomei notas, analisei...  resultado: minhas decepções só se agravam. Digo decepções porque criei expectativas, assim como todos os brasileiros. Meus heróis morreram de overdose de "poder"! Meus ídolos caíram e as grandes idéias foram chamuscadas pela arrogância e autoritarismo, ou seja: meus heróis são vítimas da droga que tanto lutaram contra: a vantagem de se manter uma desigualdade social para ter a quem manipular.
O problema maior que presencio é o do autoritarismo ignorante desta nova geração: os jovens gritam, não escutam;  agridem, não ouvem; repetem idéias, não pensam. Os mais velhos por sua vez batem com o cajado do poder financeiro - o uso da força do mais adaptado ao sistema e aí ninguém se comunica, ninguém aprende, ninguém ensina e mais: não podemos reclamar, porque não existe quem nos ouça. No Brasil a máxima se tornou: há muitos direitos sem deveres, não somos iguais todos os seres, o contrário da canção revolucionária Internacional  escrita por Eugène Pottier em Junho 1871.  O brasileiro honesto está sem direitos,  não sabe respeitar porque perdeu o respeito próprio. Ninguém reclama, porque reclamar é dar barraco; reclamar seus direitos é sinônimo de desmanchar prazer.

Hoje minha discussão como cidadã do mundo vivendo no Brasil é bem pontual e as questões são:

Que país é este? Do povo hospitaleiro, como querem que os turistas nos vejam? De onde saíram os 97% de satisfação apresentados ontem pelo Fantástico?


NÃO - Não somos mais hospitaleiros. Somos exploradores da boa vontade alheia, da boa fé seja do turista, seja daquela que vem do próprio conterrâneo.
Somos explorados pelos taxistas desonestos que rodam dezenas de quilômetros a mais.
Somos explorados na padaria, onde nos vendem pão com tanto bromato que quando mordemos sentimos os farelos se dissolverem e continuamos com fome, com a impressão de que estamos comendo vento.
Somos explorados quando queremos nos divertir e eles nos vendem area VIP, prometendo segurança e quando chegamos lá  ficamos mais estressados e com medo porque somos obrigados a sentar do lado de gente mal educada, bêbada e inconveniente.
Somos explorados quando nos vendem o melhor lugar no show do nosso cantor favorito, em casas de alto padrão e não podemos nem mesmo enxergar o palco.
Somos explorados quando usamos serviços de primeiro mundo para reservar hotéis e quando chegamos cansados, as fotos mostradas são bem diferentes da realidade e temos que cancelar, botar a mochila nas costas e procurar um lugar limpo para ficar.
Somos explorados em cada esquina, à cada metro quadrado.
Somos explorados por anos pagando planos de saúde e quando precisamos nos aplicam remédios genéricos sem nosso conhecimento, nosso consentimento, sem escolhas...
Minha lista pode se estender muito ainda... e muitos ainda vão dizer: "Nossa como você é exigente!" E vão tentar fazer você acreditar que aquilo a que você tem direito é muito para você, que você não nasceu para receber nada de qualidade, nada bom.  E isto se traduz na falta respeito ao outro, por aqueles que não enxergam nada além da propaganda enganosa de que o Brasil é o melhor país do mundo e que levar vantagem é ser inteligente! Você é quem é bobo, não prestou atenção...

Boa sorte ao "fazer bonito" nos grandes eventos que virão, no país do "povo hospitaleiro". Em 20 dias não acredito que recuperaremos o que perdemos lá atrás na história, na formação de cidadãos honestos: o Respeito. Mesmo que eu tenha nascido no ano da esperança...
Até a próxima roupa suja...